Podemos aprender com a história?
Leitura de 4 minutosNão os esconderemos dos nossos filhos; contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez.
Salmos 78:4
No Antigo Testamento, há um lugar especial para livros históricos como Josué, Juízes, Rute, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Isso para não dizer que toda a Bíblia é um registro historicamente preciso, mesmo quando falamos de livros proféticos ou poéticos.
No Novo Testamento temos o livro de Atos, quase totalmente dedicado à história da Igreja Primitiva. Temos também os Evangelhos que nos contam a história de Jesus e se olharmos cuidadosamente para as epístolas, veremos que estão cheias de história.
Mas a história da Igreja não termina ali. Como diz o Salmo 78, quando olhamos para a nossa história com Deus, vemos que ela é também a história dos feitos do Senhor, do seu poder e das maravilhas que fez.
A pergunta que queremos responder aqui é: será que o cristão pode ser edificado e ajudado ao estudar e aprender sobre a história da Igreja?
A igreja invisível
Em 1969, Martin Lloyd-Jones pregou uma mensagem no encerramento da conferência puritana com o título “Podemos aprender da história?“. Suas primeiras palavras foram:
Talvez não exista nada que tenha denegrido tanto a glória de Deus como a história do Seu povo na Igreja. Por isso vou tratar deste assunto sobre aprender da história. O famoso dito de Hegel faz-nos lembrar que “O que aprendemos da história é que não aprendemos nada da história”. Ora, no que se refere ao mundo secular, essa é uma verdade plena e indubitável. A história da raça humana mostra isso claramente. A humanidade, em sua loucura e estupidez, sempre repete os mesmo erros. Não aprende, e se nega a aprender.
Mas não aceito isso como sendo próprio do cristão. O meu ponto de vista é de que o cristão deve aprender da história, e que, por ser cristão, é seu dever fazer isso e deve animar-se em fazê-lo.
Quando olhamos para a história da Igreja, percebemos que ela está repleta de defeitos. Levou-se séculos para que a Igreja pudesse compreender doutrinas fundamentais e tão importantes. Tantos erros cometidos em nome da verdade, tudo parece estar tão longe da perfeição.
Esse é o aspecto terreno da Igreja. Quando Jesus contou a parábola do joio e do trigo em Mateus 13, aprendemos que “o campo é o mundo” e que existe uma Igreja que foi plantada no mundo. Para quem olhar de fora, a Igreja é composta de joio e de trigo e tudo parece misturado. Se olharmos na história, veremos que o joio sempre estará lá. É isso que Agostinho chamou de ”igreja visível”, a igreja estruturada que pode ser vista do lado de fora.
Mas quando olhamos para Mateus 13, vemos que o coração do Senhor daquele campo estava no trigo. Existe uma igreja invisível. Você pode não conseguir contar os seus membros, nem colocar uma placa, mas ela está lá. Essa é uma igreja “escondida em Deus”, ou seja, só Deus conhece exatamente quem são essas pessoas.
Mas qual é o critério de Deus? Como podemos ver essa Igreja invisível? O critério de Deus é a vida de Cristo. Quando Deus abriu os céus para dizer que Cristo era o seu Filho amado, em quem ele tinha todo o seu prazer, é como se Deus pudesse olhar para toda a terra e ver apenas o Seu Filho aqui. Da mesma forma, ainda hoje, Deus ainda vê apenas o Seu Filho.
Se quisermos ver a igreja invisível, conhecer a verdadeira história do povo de Deus, precisamos procurar pelo que Ele procura: a vida de Cristo. Jesus disse que o Pai procura ”adoradores que o adorem em Espírito e em verdade”. O Pai não procura adoração, ele procura adoradores. Deus procura pessoas onde a vida de Cristo seja visível.
Se esse for o nosso critério, a história da Igreja será riquíssima para nós. Veremos a Boa Parte em meio aos problemas do passado e poderemos ser enriquecidos e edificados.
A história e a adoração
No Salmo 136, temos uma declaração:
Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque sua misericórdia dura para sempre.
Quando dizemos que algo “dura para sempre”, é porque podemos olhar na história e verificar essa informação. É justamente esse o argumento do salmista. Olhem para a história, vejam que a misericódia do Senhor não tem fim. Qual o resultado desse exercício? Adoração. Rendei graças ao Senhor.
Assim, desde a criação, Deus é apresentado como misericordioso.
Aquele que com entendimento fez os céus, estendeu a terra sobre as águas, fez o sol e lua, criou a noite e o dia. Esse é Deus na criação.
Tembém vemos Deus na redenção de Israel. Aquele que feriu o Egito e tirou Israel do meio deles com mão poderosa e braço estendido. Abriu o Mar Vermelho e fez Israel passar. Conduziu seu povo pelo deserto, feriu grandes reis, deu herança a Israel.
Á medida que o salmo caminha para o fim, o próprio salmista se inclui: Deus se lembrou de nós em nosso abatimento, nos libertou dos adversários e nos dá o alimento.
Qual a finalidade da meditação do salmista? Incentivar adoradores: “Tributai louvores ao Deus dos céus”. Este é o último versículo.
Esta deve ser a mesma finalidade do estudo da história hoje. Que ao encontrarmos a vida de Cristo na história, sendo expressada pela Igreja, possamos adorar a Deus pela sua fidelidade e misericódia através dos séculos. Possamos ver que o mesmo Deus que plantou a Igreja no início com poder e grandes maravilhas, continua fiel e poderoso ainda hoje.
Portanto, creio que sim, podemos aprender com a história. Devemos aprender com a história. Aprender sobre Deus, sobre sua obra, seu caráter e fidelidade. Até o dia em que os séculos sejam consumados e o tempo não seja mais necessário. Até que chegue esse Dia, nós não os esconderemos dos nossos filhos e contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder e as maravilhas que fez, porque sua misericórdia dura para sempre.
Por: Filipe Merker
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