Como devemos orar? | Fundamentos do discipulado

Oração não é uma sugestão ou prática recomendada aos discípulos de Jesus. Oração é um mandamento.

Antes de entendermos como funciona a prática da oração, devemos entender a essência por trás da oração. Por quê, dentre todas as coisas que Deus poderia esperar de nós, a oração é uma das mais importantes.

Oração no Antigo Testamento

O princípio fundamental por trás da oração é relacionamento: Deus deseja estar em comunhão com o homem que criou. No entanto, essa comunhão perfeita que existia no Jardim do Eden se perdeu. Desde a queda, o movimento de Deus sempre foi de reaproximação:

  • Ele chamou homens como Abel, Sete, Enoque, Noé, Abraão e muitos outros para andarem com ele.
  • Fez sua presença conhecida ao povo de Israel através de sinais nas nuvens e no fogo
  • Se revelou no topo do monte Sinai
  • Desceu do monte para habitar no Tabernáculo e, posteriormente, no Templo de Salomão.

Todos esses movimentos de reaproximação foram iniciados por Deus, mas Ele sempre esperou uma contrapartida humana. Na prática da oração, o Deus que nos ama e nos reaproximou dele em Cristo, encontra a resposta necessária no coração humano para que um ambiente de intimidade possa acontecer.

Você sabia que Deus quer estar perto de você?

Vamos ver algumas palavras sobre oração no Antigo Testamento:

palal (פ־ל־ל)

No Antigo Testamento o principal termo Hebraico para oração (פ־ל־ל / palal) vem do contexto jurídico e significa um pedido oficial ou uma proclamação oficial. Esse é um termo técnico e carregado de seriedade, frequentemente usado por juristas e advogados da antiguidade clássica. Essa palavra foi escolhida por Deus, porque existe uma ênfase no Antigo Testamento em mostrar que Deus é Juíz e autoridade suprema. No entanto, quando é usada no texto bíblico, ao invés de um inflexível juiz celestial, essa palavra mostra que, ele é também um Deus amoroso que ama estar perto de quem o busca sinceramente:

Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar (palal), e buscar a minha face… então eu ouvirei dos céus e perdoarei o seu pecado e sararei a sua terra. – 2 Crônicas 7:14

qara (קָרָא)

Outra palavra no Hebraico usada para oração é qara (קָרָא). Essa é uma palavra riquíssima, que significa uma proclamação em voz alta, um chamado, um grito. Ela é usada para mostrar que Deus deseja encontrar uma busca no coração humano pela sua presença.

“Na minha angústia invoquei (qara) o Senhor, e clamei ao meu Deus; do seu templo ouviu a minha voz.” – Salmo 18:6

Clama (qara) a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes.” – Jeremias 33:3

baqash (ב־ק־שׁ) e darash (ד־ר־שׁ)

Para encerrarmos nosso estudo da oração no Antigo Testamento, podemos olhar para essas duas palavras que falam da postura de quem ora. baqash significa buscar de forma emocional, com o coração, com toda a força.

“Mas de lá buscarás (baqash) o Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma.”

A palavra darash, por outro lado, fala de fazer uma busca constante e diligente. A oração não deve ser apenas intensa, mas também constante. Não somente envolve a emoção mas também a vontade.

“Buscai (darash) o Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente.” – Salmo 105:4

Existe um versículo que usa tanto baqash como darash e podemos usá-lo para resumir parte do que Deus deseja encontrar em nossa vida de oração:

E buscar-me-eis (baqash – busca intensa) e me achareis, quando me buscardes (darash: busca constante) de todo o vosso coração. – Jeremias 29:13

Resumindo

No Antigo Testamento, aprendemos que a oração é:

  • palal: Um clamor jurídico e oficial que nos garante acesso para falar ao coração do Juiz.
  • qara: Um pedido poderoso, para os momentos de desespero, que chama a atenção de Deus.
  • baqash: Um clamor intenso, feito com toda a força.
  • darash: Um clamor constante, feito de todo o coração.

Exemplos de orações no Antigo Testamento

Tipo de oraçãoPersonagemReferênciaTema central
IntercessãoAbraãoGn 18Justiça e misericórdia
Luta espiritualJacóGn 32Transformação pessoal
Intercessão nacionalMoisésÊx 32Perdão e aliança
Oração pessoalAna1Sm 1Dor e fé
DedicaçãoSalomão1Rs 8Presença de Deus
Clamor proféticoElias1Rs 18Poder e revelação
CuraEzequias2Rs 20Intimidade e resposta
ConfissãoEsdrasEd 9–10Arrependimento
PlanejamentoNeemiasNe 1Oração antes da ação
LibertaçãoDanielDn 9Confissão e esperança
DesesperoJonasJn 2Misericórdia
Louvor em meio ao caosHabacuqueHc 3Fé inabalável
Adoração contínuaDaviSalmosRelacionamento íntimo

Oração no Novo Testamento

No Novo Testamento, vemos o cumprimento de todas as promessas e exemplos mencionados anteriormente. Em Jesus, a reaproximação entre Deus e os homens se torna completa e definitiva. Deus estava, em Cristo, reconciliando consigo o mundo. Pela fé, todo homem pode entrar profundamente neste lugar que foi criado para estar: a presença de Deus.

A oração do Pai Nosso

Em Mateus 5 Jesus nos dá o padrão absoluto para uma vida completa de oração. Certamente, embora tenha dito “vocês orarão assim”, Jesus não tinha a expectativa de que essa oração fosse repetida palavra por palavra. A prova disso é que ele mesmo orou de várias maneiras diferentes e ensinou diferentes orações aos discípulos, como em Lucas 11.

A oração do Pai nosso é um modelo de como devemos estruturar nossa vida de oração. Ela traz princípios que devem estar contidos em nnossa comunhão com o Pai.

Vamos observar seus principais elementos:

1. “Pai nosso que estás nos céus” — Relacionamento e identidade
Jesus começa nos lembrando de quem é Deus e de quem somos diante dele. A oração não é do “pão nosso”, mas do “Pai nosso”. Não começa com pedidos, mas com reconhecimento: Ele é Pai. Essa é a revelação mais profunda da vida cristã: não falamos com um juiz distante, mas com um Pai amoroso. Cada palavra dessa frase é cheia de significado: “Pai” revela intimidade; “nosso” revela comunhão e unidade; “que estás nos céus” revela autoridade e soberania.

Pergunta prática: a sua vida de oração tem sido uma vida de intimidade?

2. “Santificado seja o teu nome” — Adoração e reverência
A verdadeira oração sempre começa pela adoração. Antes de pedir algo, nós colocamos o foco Nele. Reconhecer a santidade de Deus nos reposiciona espiritualmente, tira o centro de nós mesmos e o coloca onde deve estar: em Deus.

Perguntas práticas: sua vida de oração tem servido para honrar a santidade de Deus? Você tem orado para que o nome (testemunho) de Deus seja santificado na SUA vida?

3. “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade” — Submissão e propósito
A oração não é apenas uma lista de desejos, mas uma entrega. Orar é alinhar a nossa vontade com a vontade de Deus. Jesus nos ensina a buscar primeiro o Reino, a desejar que a vontade do Pai prevaleça sobre a nossa.

Perguntas práticas: sua vida de oração é sujeita à vontade de Deus? Você está disposto a viver de tal forma a ser um agente da realização da vontade de Deus?

4. “O pão nosso de cada dia nos dá hoje” — Dependência e provisão
A oração inclui nossas necessidades, mas sempre dentro do contexto de dependência diária. O pão é “nosso” porque Deus nos sustenta, e é “de cada dia” porque Ele deseja que confiemos nEle continuamente. Muitos, para tentarem ser espirituais, se recusam a orar por coisas desse mundo, mas isso vai em contradição ao padrão estabelecido por Jesus.

Perguntas práticas: você tem orado por suas necessidade pessoais? Tem sido sincero e vulnerável diante de Deus, expondo tudo que precisa e pedindo a provisão? Tem orado por seu trabalho?

5. “Perdoa-nos as nossas dívidas” — Confissão e reconciliação
A oração cristã sempre inclui arrependimento. Quem experimenta a graça não pode deixar de oferecer graça. Jesus conecta o perdão de Deus ao perdão que oferecemos aos outros, revelando que a oração verdadeira transforma o coração. Uma das melhores formas de resolver problemas relacionais, é se dispor a orar pela pessoa. Nenhuma divisão resiste a um encontro com a graça de Deus.

Perguntas práticas: você tem pedido perdão e demonstrado arrependimento em suas orações? Você também tem orado por aqueles que lhe feriram? Lembre-se, nem todas as suas orações precisam ser assim, mas esse deve ser um elemento presente em sua vida de oração como um todo.

6. “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do maligno” — Santidade e vigilância
Onde muitas traduções falam “livra-nos do mal”, o texto original fala do maligno. Ser livre do maligno significa reconhecer que há forças espirituais do mal que desejam agira contra nós. As vezes o plano do maligno pode ser fazer as coisas erradas darem certo para você, fora da vontade de Deus. Ser livre do maligno, significa que não queremos nada que não venha de Deus. Aqui está a oração de quem conhece sua fraqueza e confia no poder de Deus para permanecer firme. Orar é também vigiar, é depender da graça para resistir ao mal e caminhar em pureza.

Perguntas práticas: Você reconhece sua fraqueza em oração? Pede socorro? Clama por livramento em momentos de necessidade? Jesus quer que você ore assim.

7. “Pois teu é o Reino, o poder e a glória” — Exaltação e entrega final
A oração termina como começou: exaltando o Senhor. Tudo é Dele e para Ele. A oração começa na adoração e termina na rendição total.

Tipos de oração

Na escola da oração, você deve entender também que não existe apenas diferentes conteúdos para a oração, como vimos no estudo acima, mas existem diferentes tipos de oração.

Vamos estudar um texto em Filipenses que fala de alguns tipos de oração:

Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, em tudo, sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus. – Filipenses 4:6-7

1. Pedidos: Existem momentos com Deus que são definidos pela necessidade do pão. Falamos o que precisamos, com sinceridade. Pedimos curas, pedimos provisão, pedimos milagres, pedimos bênçãos, pedimos mais do Espírito Santo.

2. Oração: Aqui fala de um modelo mais genérico de oração, quando simplesmente conversamos com Deus. Ele deseja desenvolver essa intimidade, onde falamos e ouvimos.

3. Súplica: Aqui vemos um nível de intensidade mais profunda. Suplicar é mais forte que pedir. Muita gente fala de quando Jesus disse que não devemos orar com “vãs repetições”, como se toda repetição fosse ruim. Mas ele mesmo ensina a importância de insistir com Deus em oração (Lucas 11, Lucas 18) e o próprio Jesus, no Getsêmani orou repetidamente. O problema não é ser insistente com Deus, mas fazer isso de forma “vã”, sem sentido, ou até mesmo em assuntos que Deus já revelou sua vontade.

4. Ações de graças: A gratidão também é um tipo especial de oração. É adorarmos a Deus baseados naquilo que ele nos deu e confiados no que realizou e ainda confiantes no que prometeu. As vezes, tudo que precisamos em nossa vida de oração é levantar as mãos e agradecer. Esse tipo de coração grato frequentemente atrai as bênçãos de Deus.

Abaixo, alguns homes e mulheres de Deus no Novo Testamento que praticaram orações e se tornaram referência para nós pela fé que tiveram. Estude essas casos e deixe essas muitas histórias fortalecerem a sua fé!

Tipo de OraçãoDescriçãoPersonagemReferênciaTema Central
AdoraçãoExaltação e reconhecimento da santidade e glória de Deus.Maria (mãe de Jesus)Lucas 1:46–55 (Magnificat)Louvor e gratidão pela salvação
Ação de GraçasExpressa gratidão pelas bênçãos e pela fidelidade de Deus.PauloFilipenses 1:3–5; 1 Tessalonicenses 5:18Gratidão contínua e contentamento
IntercessãoOração feita em favor de outras pessoas.EstêvãoAtos 7:59–60Perdão e misericórdia pelos inimigos
Súplica / PetiçãoPedido por necessidades pessoais ou comunitárias.BartimeuMarcos 10:46–52Clamor por cura e intervenção
ConfissãoReconhecimento sincero do pecado diante de Deus.O publicanoLucas 18:13Humildade e arrependimento
Oração ComunitáriaOração feita em unidade com outros irmãos.Igreja primitivaAtos 4:24–31Poder do Espírito e coragem para testemunhar
Oração de ConsagraçãoEntrega da vontade pessoal à de Deus.Jesus no GetsêmaniMateus 26:39Submissão total e obediência
Oração de Louvor em Meio à DorExaltação mesmo em meio ao sofrimento.Paulo e SilasAtos 16:25Fé e libertação em meio à tribulação
Oração ContínuaVida de comunhão ininterrupta com Deus.Ana, a profetisaLucas 2:36–38Perseverança e devoção
Oração ApostólicaOração pastoral e doutrinária em favor da Igreja.PauloEfésios 1:15–23; 3:14–21Crescimento espiritual e revelação
Oração de FéClamor que se baseia na confiança absoluta no poder de Deus.A mulher siro-feníciaMateus 15:21–28Perseverança e fé inabalável
Oração ProféticaDeclaração inspirada pela revelação do Espírito Santo.SimeãoLucas 2:28–32Cumprimento da promessa messiânica
Oração SilenciosaExpressão íntima do coração diante de Deus.Maria, mãe de Jesus (meditando no coração)Lucas 2:19Contemplação e reflexão espiritual

Por: Filipe Merker

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