Como fazer um grupo caseiro?

Qual é o padrão de Jesus para um grupo caseiro?

Grupos caseiros, igrejas nas casas, núcleos, células, conexões, hubs, DNA, etc. Esses são alguns nomes modernos, mas todos traduzem o mesmo princípio.

O termo bíblico para isso é: “a igreja que se reune na casa”.

igreja que se reúne na casa deles – Romanos 16:5
igreja que está na casa deles – Romanos 16:19
igreja que ela hospeda em sua casa – Colossenses 4:15
à igreja que está em tua casa – Filemom 1:12

Nos primeiros séculos a igreja se reunia de muitas formas, usando os espaços disponíveis, como escolas (Atos 19:8–10), senáculos (Atos 1:12–14) e até mesmo no Pórtico de Salomão (Atos 2:26, Atos 5:12) para cultos públicos e de maior concentração de irmãos.

A igreja reunida na casa não é necessariamente sinônimo de discipulado. Alguns pensam, de forma equivocada, “já fiz meu discipulado essa semana” por ter participado de um grupo como esse.

Biblicamente, o ambiente da casa é uma ferramenta para ser usada no discipulado, ela não é o discipulado em si. A igreja na casa oferece oportunidades únicas, que outros ambientes de discipulado não oferecem. Discípulos em diferentes momentos da caminhada, todos no mesmo ambiente, uns podendo ajudar os outros!

A prática de usar a casa como um ambiente de discipulado pode ser vista no livro de Atos, mas ela começou muito antes, tendo sido inaugurada por Jesus.

O primeiro grupo caseiro da história da igreja

No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de dois dos seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Os dois discípulos, ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus. E Jesus, voltando-se e vendo que o seguiam, disse-lhes: Que buscais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde assistes? Respondeu-lhes: Vinde e vede. Foram, pois, e viram onde Jesus estava morando; e ficaram com ele aquele dia, sendo mais ou menos a hora décima. Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João e seguido Jesus. Ele achou primeiro o seu próprio irmão, Simão, a quem disse: Achamos o Messias (que quer dizer Cristo)

João 1:35-41

Aqui vemos o primeiro grupo caseiro da história da igreja. Jesus ainda não havia se mudado de Nazaré para Cafarnaum, mas estava habitando em uma morada temporária perto da região do Jordão.

Dois discípulos de João Batista o seguem, ilustrando um princípio fundamental do que significa fazer discípulos: significa levar pessoas até Jesus. Perdê-las para Jesus.

Os discípulos perguntam “Mestre, onde moras?”. Eles não perguntam sobre doutrinas, não perguntam sobre política, perguntam sobre sua moradia, seu lugar de habitação. Esse é um desejo por intimidade, e Jesus corresponde ao pedido, fazendo um inigualável convite: “venham e vejam”.

Aqui começa o primeiro grupo caseiro. Vamos olhar alguns elementos dessa história que podem nos ensinar a como reunirmos HOJE os irmãos.

1. Aconteceu em uma casa

O cenário aqui é importante. Jesus poderia ter feito essa reunião em qualquer lugar, mas a casa tem uma significância importante. É um lugar de habitação, onde a vida acontece, propício para relacionamentos profundos. Muitas coisas se podem dividir ou emprestar aos outros, mas abrir a casa é apenas em um ambiente de confiança.

2. Liberdade e simplicidade

O text diz que eles passaram aquele dia juntos. Sem pressa para ir embora, sem muito planejamento, apenas um desejo profundo de estar com Jesus.

3. Poucas pessoas, mas interessadas em Jesus

Não deixe de fazer um grupo caseiro por ter poucos participantes. Não podemos ser vítimas de numerolatria, nem numerofobia. Poucas pessoas não é sinal de profundidade espiritual e muitas pessoas não é sinal de frutificação espiritual. O princípio aqui é que o número não importa, contanto que Jesus esteja no centro.

4. Jesus estava no centro

Jesus estava em casa. Ele se sente em casa, na sua casa? Esse encontro não era sobre os discípulos, nem sobre as suas preferências e expectativas. Era sobre o Grande Mestre. Eles estavam lá para estar com ele. Um grupo caseiro deve ser dirigido por Jesus, através do Espírito Santo.

5. Pessoas decidiram segui-Lo

Uma última característica que podemos observar é que um grupo caseiro nos padrões de Jesus é composto por seguidores decididos. As vezes, movidos por uma expectativa genuína, nós insistimos, e insistimos e insistimos em pessoas que ainda não estão dispostas a segui-lo. Raramente devemos fechar a porta de casa para alguém, mas também não devemos empurrar ninguém para dentro.

Exemplo disso é que logo após essa história, um dos discípulos, que era André, vai até seu irmão Pedro e “o levou até Jesus”. Assim cresce um grupo caseiro, através de discípulos que foram tão profundamente impactados por Cristo, que desejam ver seus amados vivendo a mesma experiência.

Um lugar de vulnerabilidade

Dias depois, entrou Jesus de novo em Cafarnaum, e logo correu que ele estava em casa. Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à porta eles achavam lugar; e anunciava-lhes a palavra. Alguns foram ter com ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens. E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente ao em que ele estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito em que jazia o doente. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados. Mas alguns dos escribas estavam assentados ali e arrazoavam em seu coração: Por que fala ele deste modo? Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados, senão um, que é Deus? E Jesus, percebendo logo por seu espírito que eles assim arrazoavam, disse-lhes: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração? Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. Então, ele se levantou e, no mesmo instante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e darem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim!

Marcos 2:1-12

Este texto nos mostra o poder de uma casa cheia, onde existe liberdade para se expor. Um lar que se torna um ponto de encontro entre a necessidade humana e a presença de Deus. Jesus estava em casa, e onde ele está, as pessoas se ajuntam, a Palavra é anunciada e corações são transformados.

Vamos observar alguns princípios presentes aqui, que podemos aplicar em nossos encontros da igreja na casa:

1. A Palavra é anunciada

Antes de qualquer milagre, Jesus anunciava a Palavra. A casa estava cheia, mas o centro da reunião não era o paralítico, nem a necessidade, e sim o próprio Cristo. O verdadeiro mover começa quando o Evangelho ocupa o primeiro lugar.

2. Fé ativa e não teórica

Quatro homens se uniram para levar um amigo até Jesus. Fé que não se move em direção ao necessitado é apenas teoria. Esses homens nos lembram que um grupo saudável não é aquele que apenas ouve, mas que age em amor.

3. Um espaço de vulnerabilidade

O paralítico foi exposto diante de todos. Sua limitação ficou evidente. Mas foi nesse lugar de exposição que ele foi curado e perdoado. Nossas casas devem ser lugares onde as pessoas possam ser vistas como são, sem máscaras, sem medo, sem disfarce, sem medo de julgamento ou represália. Apenas em um ambiente assim, pode haver cura.

4. Um encontro de perdão e restauração

Jesus primeiro perdoa, depois cura. Ele toca na raiz antes de tocar na ferida. Um grupo caseiro saudável não é apenas um espaço de comunhão, mas também de confronto amoroso, onde o Espírito Santo restaura o interior antes do exterior.

5. Um ambiente que glorifica a Deus

No fim, todos se admiraram e glorificaram a Deus. O resultado de uma casa cheia da presença de Jesus é sempre o mesmo: adoração. Quando Ele é o centro, o ambiente se torna cheio de glória, e todos saem dizendo: jamais vimos coisa assim. Precisamos cuidar para que nossos encontros não se tornem apenas práticos ou repetitivos. Os discípulos precisam ser expostos à glória de Deus e isso só acontece por meio do clamor e da oração e da preparação espiritual.

A boa parte

Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.

Lucas 10:38-42

Neste texto, Jesus está novamente em uma casa. E mais uma vez, uma casa se torna o cenário de algo eterno. Marta serve, Maria ouve. Uma se agita, a outra contempla. Ambas amam a Jesus, mas apenas uma compreende o que Ele mais deseja naquele momento: estar com elas.

Vamos observar alguns princípios importantes para nossos encontros em casa.

1. A boa parte

Maria escolheu a boa parte. Apesar de todo o serviço, da recepção e do cuidado, o foco e o fim de tudo é Jesus. Corremos o risco de transformar nossos grupos caseiros em bons encontros, cheios de risadas, comida e amizade, mas vazios de Cristo. Nem toda reunião de discípulos é comunhão. Comunhão é união em torno de uma mesma pessoa, e essa pessoa é Cristo.

2. Contemplação

Maria estava assentada aos pés do Senhor, ouvindo o seu ensino. O grupo caseiro é o momento de olhar para Jesus. Quem recebe e quem é recebido precisa primeiro receber do Senhor. O discipulador deve ajudar os irmãos a contemplar o que realmente importa. Nós nos tornamos parecidos com aquilo que admiramos. Se falamos apenas de trabalho, dinheiro ou distrações, é isso que formaremos nos outros. Mas se o nosso foco está em Cristo, esse foco será transmitido.

3. Simplicidade

Maria estava assentada aos pés de Jesus, no chão. A cena é simples e profunda. O grupo caseiro deve refletir essa simplicidade — na forma, no ambiente, nas palavras. A beleza está na leveza, não na performance. Devemos ser excelentes, mas sem perder a simplicidade que permite que Cristo seja o destaque.

4. Correção

Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Jesus corrige Marta com amor. Ele não a envergonha, mas a chama de volta para o essencial. Em nossos grupos, também precisamos saber corrigir com amor, sempre com o objetivo de restaurar e não de humilhar. A correção de Jesus aponta para o alvo, não para o erro.

5. Uma só coisa

Pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa. O grupo caseiro pode ter louvor, palavra, partilha, comunhão, mas se faltar essa uma coisa — a presença de Cristo — tudo perde o sentido. Maria escolheu o essencial. Essa é a escolha que precisamos fazer toda semana, toda vez que abrimos as portas de casa: escolher a boa parte, e não deixá-la ser tirada de nós.

Copyright ©2025 Examinando as Escrituras | Estudos Bíblicos e Devocionais. Todos os direitos reservados. Desenvolvido com ❤ Devanir Reolon